Entramos nesta vida com karma, não como punição, mas como padrão. Um mapa de esforço, lembrança e reparo. E o terreno que ele percorre é sempre o relacionamento.
O primeiro é consigo mesmo: aprender a sentar com o clima interno, ouvir a respiração sob o ruído, sustentar nosso próprio olhar sem recuar. Depois vem a família na qual nascemos, essa herança complexa de amor e anseio, de necessidades não atendidas e força ancestral. E a partir daí, as ondas se expandem, para a terra onde nascemos, amizades, trabalho, comunidade. Para aqueles que escolhemos. Para os que nos escolhem. Para os projetos que damos à luz. Para as famílias que criamos. Para esta terra.
Tudo isso, cada conexão, torna-se parte do processo criativo. Porque criar é estar em relação. E estar em relação é correr o risco de ser transformado.
No meu trabalho ao longo dos anos, o que compreendi é que a cura não é uma jornada individual. Ela acontece no espaço entre os sistemas nervosos, na alquimia silenciosa da conexão límbica. No olhar que diz: eu te vejo e não estou virando o rosto. Na respiração que desacelera porque alguém está mantendo um ritmo constante. No sim não falado da segurança.
O cuidado terapêutico foi, certa vez, o início. Mas com o tempo, tornou-se algo mais fluido, mais íntimo. Mentoria, companheirismo, co-criação. Uma lembrança mútua do que significa pertencer, não na teoria, mas na experiência sentida.
Nesta era de ouro de Aquário, os ensinamentos não vivem mais atrás de véus. Não há mistérios, apenas espelhos. E o mais claro deles é o relacionamento. E isso me fala profundamente, porque sou um espelho. Esta se tornou uma das verdades mais claras do meu caminho. Sentar com alguém, realmente vê-lo, é refletir de volta a forma da sua cura. Nas condições certas, é uma bênção. Em um momento de abertura, é um portal. Mas nem todos querem ver. Às vezes, o que reflito é recebido com aversão, rejeição ou medo, e esse espelho se quebra. Houve uma longa curva de aprendizado para sustentar essa qualidade com graça. Validar o espelho em mim. Lembrar que eu também ainda estou crescendo, e que nem toda ruptura é pessoal, mesmo que doa. Foi preciso profunda compaixão para permanecer presente, não fechar o coração, e confiar que todos estamos aqui para aprender.
É por meio desses relacionamentos, ternos, bagunçados, em evolução, que encontramos o ponto de quietude interior. A parte intocada. A essência que espera pacientemente sob cada onda de vir a ser.
Curamos nos espaços onde somos acolhidos. Prosperamos quando nosso sistema nervoso é recebido com gentileza. Ganhamos vida quando somos escolhidos, por nós mesmos primeiro, e depois por aqueles que nos encontram onde estamos e caminham ao nosso lado rumo ao que estamos nos tornando.
Este blog começa aqui, nesse nosso espaço sagrado.